Coluna de opinião publicada no la Tribune de Genève
Após um mês de presidência Trump, é evidente que os Estados Unidos já não são nossos aliados. As suas declarações imperialistas sobre o Canal do Panamá, o Canadá ou a Gronelândia, as suas ameaças de guerras comerciais, o seu diálogo com um ditador responsável pela mais grave guerra de agressão na Europa desde 1945, provam-no.
Após a tentativa de humilhação mediática de Zelensky, os ataques à democracia europeia e a presença de forças americanas no nosso continente, o fim da aliança transatlântica concluída por Churchill e Roosevelt face à ameaça nazi está próximo. Estamos a assistir à emergência de um eixo Trump-Putin hostil ao direito internacional, ao multilateralismo e à democracia. Recusamo-nos a ser coniventes com Putin para impor uma solução que legitima a agressão e não garante a nossa segurança.
O que é que podemos fazer? Antes de mais, temos de acordar para a nova realidade. Até há pouco tempo, alguns dirigentes da UE estavam em negação, refugiando-se no mantra atlantista. A Europa está por si só, como a Grã-Bretanha em 1940. Tem de assumir a responsabilidade pelo seu próprio destino.
Temos de integrar a Ucrânia na economia da UE, com exceção da agricultura, concluir um acordo sobre terras raras e reforçar o nosso apoio. A ajuda americana, que é inferior à da Europa, que é uma das economias mais fortes do mundo, não é insubstituível. A Alemanha deve entregar os mísseis de longo alcance Taurus. Temos de eliminar todas as restrições contra os alvos militares convencionais russos, intensificar as sanções contra a frota petrolífera sombra russa e fazer uso dos 200 mil milhões de euros em activos financeiros congelados do Estado agressor.
Perante esta ameaça, temos de lançar um plano industrial europeu financiado pela dívida comum e pelos recursos próprios. O objetivo é colmatar as lacunas tecnológicas, de investimento e de competitividade identificadas no relatório Draghi, reforçando simultaneamente a nossa indústria de defesa, em especial através da criação de um Banco Europeu de Armamento.
Mas, face a este desafio existencial, a produção conjunta de armas não será suficiente.
Temos de criar uma Comunidade Europeia de Defesa com a participação da Ucrânia. Ela garantirá a nossa defesa territorial, como um pilar europeu da NATO que pode ser mobilizado independentemente de Washington.
Isto é possível ao abrigo das disposições do Tratado de Lisboa sobre a defesa europeia comum e a cooperação estruturada permanente. Se os aliados de Trump no Conselho Europeu bloquearem esta proposta, terá de ser concluído um tratado provisório separado. Propomos igualmente alargar os benefícios da dissuasão nuclear a todos os Estados-Membros dispostos a contribuir para o financiamento do arsenal da França.
Ao mesmo tempo, precisamos de reforçar a nossa união política e democrática, acabar com os vetos nacionais e dar mais poderes ao Parlamento Europeu através de uma reforma federal dos Tratados.
Que mais é necessário para que ocorra uma reação? A chegada dos soldados russos a Varsóvia?
Ou são os Estados Unidos da Europa ou a submissão.
Signatários
Guy VERHOFSTADT
Presidente do Movimento Europeu Internacional e antigo deputado do Parlamento Europeu
Domènec RUIZ DEVESA
Presidente da União dos Federalistas Europeus e antigo deputado ao Parlamento Europeu
Professor (h.c.) Olivier VÉDRINE
Diretor da Associação Jean Monnet